A Recredit, criada em Agosto de 2016 para gerir o malparado do Banco de Poupança e Crédito (BPC), recuperou 37 mil milhões de kwanzas de devedores ao fim de quase seis anos de operação , o que equivale a 13 por cento do valor da carteira adquirida ao banco comercial de 1,24 biliões de kwanzas, de acordo com números divulgados na sexta-feira, em Luanda.
Os dados foram obtidos num seminário de capacitação para jornalistas, onde ao lado do presidente do Conselho de Administração da Recredit, Valter Barros, a administradora executiva Mirian Ferreira indicou que quase metade do crédito foi recuperado com base na dação de activos. A dação de activos ocorre quando o devedor, com a concordância do credor, realiza uma prestação diferente daquela a que estava inicialmente vinculado, fazendo extinguir a dívida.
A administradora executiva sublinhou que a Recredit tenta sempre fazer a recuperação extrajudicial inicialmente, procurando negociar com o mutuário. Quando a negociação é bem-sucedida, segue-se um plano de amortização, dação de activos ou compensação de créditos.
Valter Barros revelou que a companhia tem 77 processos em fase de contencioso, incluindo um pedido de insolvência, e 24 acções judiciais em curso.
A carteira (1,24 biliões de kwanzas) representa 476 processos de crédito, 28 dos quais pertencentes à primeira carteira adquirida e os restantes à segunda, pelas quais foram pagos 288 mil milhões de kwanzas, um valor de aquisição ao qual foi aplicado um desconto global de 77 por cento.
"O nosso objectivo é devolver ao accionista Estado os 288 mil milhões que pagámos”, disse Valter Barros, salientando que o mais importante não é recuperar o valor total da exposição (1,24 biliões de kwanzas), mas o que foi pago pelo crédito adquirido.
Perfil da cobrança
Ao descrever o perfil da cobrança, Mirian Ferreira afirmou, sem avançar nomes, que há seis grandes grupos económicos na fase de contencioso e que 20 dos devedores representam 72 por cento da carteira, destacando-se o sector da construção, com quase 40 por cento dos créditos a recuperar.
Para a administradora executiva da Recredit, o objectivo é recuperar o máximo de valor de crédito malparado adquirido, mas com uma estrutura de custos diminuta que garanta eficiência e eficácia.
O presidente do Conselho de Administração da Recredit indicou que um dos processos que está em contencioso refere-se a um pedido de insolvência "para evitar que o grupo cause mais danos a parceiros”.
Walter Barros indicou que os resultados operacionais (recuperação de créditos) da entidade cresceram a uma taxa média de 162 por cento desde 2020, com uma meta de 26 mil milhões de kwanzas para 2022.
Entre os desafios identificados pelo responsável da Recredit conta-se a fraca ou nula actividade das empresas financiadas pelas anteriores administrações do BPC: "uma das respostas mais frequentes é que a empresa já não funciona há anos. Há clientes que dizem na nossa cara que não querem negociar e podem mandar aquilo para tribunal”, apontou.
Além disso, no caso dos activos imobiliários, há dificuldades em vender e a falta de registos dificulta a sua regularização.
A Recredit tem mais sete anos para recuperar o crédito malparado do banco angolano estatal BPC (Banco de Poupança e Crédito).