O Chefe de Estado, João Lourenço, enalteceu esta segunda-feira, em Luanda, os feitos alcançados pelo ex-Presidente José Eduardo dos Santos, destacando a defesa da paz e reconciliação nacional como a maior obra.
Na Praça da República, adjacente ao Memorial Dr. António Agostinho Neto, o Presidente da República chegou às 10 horas, tendo sido recebido com honras militares, num ambiente de muita comoção.
Trajado com um fato preto, João Lourenço percorreu a extensa passadeira vermelha e preta até chegar à tenda, onde se vergou diante do retrato fotográfico de José Eduardo dos Santos, rodeado de velas acesas para a devida homenagem.
No livro de condolências, aberto pelo Chefe de Estado com uma mensagem, assinalou-se o momento de dor e consternação em que os angolanos choram o Presidente José Eduardo dos Santos, destacando, também, a entrega na defesa da Independência e da Soberania Nacional nas etapas mais críticas do país.
"Vergamo-nos e honramos a sua memória, defendendo e perpetuando a sua maior obra, a Paz e a Reconciliação Nacional. À família enlutada manifestamos os nossos mais profundos sentimentos de pesar", lê-se na mensagem do Presidente da República, João Lourenço.
Neste ambiente, distintas figuras do aparelho do Estado, dos tribunais, deputados, entidades dos órgãos de Defesa e Segurança, religiosas e representantes do corpo diplomático acreditados em Angola renderam a merecida homenagem à figura do antigo Presidente José Eduardo dos Santos, que faleceu, na última sexta-feira, aos 79 anos, em Barcelona, Reino de Espanha.
Legado para as futuras gerações
O presidente da Assembleia Nacional, Fernando da Piedade Dias dos Santos, foi a segunda personalidade a assinar o livro de condolências, referindo que José Eduardo dos Santos "é um digno filho de Angola que deixa um legado que muito nos honra e que deverá ser seguido por nós e pelas gerações vindouras”.
Visivelmente comovido, o presidente da Assembleia Nacional contou que no momento mais marcante na convivência com José Eduardo dos Santos foi chamado para ser vice-ministro e depois comandante da Polícia Nacional.
"Ele teve o cuidado de me dizer que é uma pena indicarmos um jovem para estas importantes missões, mas alguém tem de as cumprir e nós estamos aqui para o ajudar”, lembrou, acrescentando que a caminhada foi feita até ao alcance da paz, reconciliação nacional e a consolidação nacional.
Fernando da Piedade Dias dos Santos sublinhou que se despede do antigo Presidente com um sentimento de "gratidão e de compromisso”, que deve continuar a ser honrada a sua memória para servir bem o povo angolano.
Por seu turno, a ministra de Estado para a Área Social, Carolina Cerqueira, salientou que o ex-Presidente foi um grande líder que se afirmou não apenas a nível do "país” mas como arquitecto da paz e da reconciliação e reconstrução nacional.
Carolina Cerqueira, também coordenadora da Organização da Cerimónia Fúnebre de José Eduardo dos Santos, assinalou que o ex-Presidente soube manter o país indivisível, apesar das ameaças do então regime do apartheid, entre outras conturbadas situações nas regiões Austral e Central de África.
Na sua visão, Dos Santos soube, igualmente, reafirmar o nome de Angola na arena diplomática, através de uma posição firme, clarividente e, sobretudo, com grande espírito de nacionalista e patriota.
"A grandeza da sua obra e da perenidade do seu legado são para nós ânimo suficiente para continuar a construir a Nação próspera com que o antigo Presidente José Eduardo dos Santos sonhou e como todos nós sonhamos”, vincou o ministro de Estado e chefe da Casa Civil do Presidente da República, Adão de Almeida.
Destacou ainda que o ex-Presidente dirigiu o povo angolano durante muitos anos, deixando a obra que será recordada por todos, para quem o mais importante agora é render a devida homenagem à figura, exaltar o legado e assumir o compromisso de tudo fazer para honrar os seus feitos.
O nacionalista Lopo do Nascimento, companheiro de luta de José Eduardo dos Santos, disse que o momento é de tristeza, não apenas da família, mas também dos amigos e para os angolanos, de modo geral.
"Considero ser o mais importante aquilo que ele fez de bom para o nosso país", lembrando os momentos marcantes que viveu com o ex-Presidente.
Estadista que amou a igreja
Para o bispo da Igreja Metodista, Gaspar Domingos, a José Eduardo dos Santos fica o legado de um estadista que soube congregar com todas as franjas da sociedade e de forma particular a igreja que este tanto amou por conta da educação religiosa que recebeu.
Ressaltou mais adiante que Dos Santos foi um Presidente com um propósito que soube cumprir desde a luta armada, para quem aceitou com coragem assumir a Presidência da República e "fazer o país que hoje temos”.
Em relação ao regresso dos restos mortais de José Eduardo dos Santos, Gaspar Domingos apelou à família que, apesar de todas as situações, que se encontre a melhor via através do diálogo. "Ele foi Presidente de Angola do qual o povo tem muito carinho e que possa repousar na terra que o viu nascer", sublinhou o bispo.
A provedora de Justiça, Florbela Araújo, foi assessora e secretária do antigo Presidente da República ao longo de dez anos. Disse que admirava a calma e a forma vertical com que dirigiu o país: "(...) É difícil! Não tenho mais palavras para dizer”.