A política orçamental virada para o fortalecimento da receita fiscal e racionalização de gastos, através de um conjunto de cortes na despesa pública do Estado foi fundamental para a saída do longo período de recessão e entrada para a fase de crescimento.
De acordo com o "sócio” para serviços financeiros da Deloitte, José Santos, o sector não petrolífero teve um importante peso nessa estratégia adoptada pelo Governo angolano.
"É difícil explicar às pessoas, uma vez que Angola já atravessava uma situação difícil e há uma restrição adicional. Contudo, a redução dos riscos orçamentais e reforçar as políticas públicas por meio de um controlo eficaz, eliminação de atrasados, entre outros procedimentos foi fundamental", afirmou.
Ainda segundo José Santos, a eliminação de atrasados é fundamental, porque credibiliza o Estado, pois qualquer agente económico que deseja colocar dinheiro ou receber financiamentos na banca só o faz quando tem a certeza de que o Estado lhe pagará. Do contrário, explica, não terá forma de pagar os fornecedores, porque se trata de uma cadeia e os atrasados causam destruição ou uma espiral negativo.
"É com base nisto que uma das primeiras medidas foi canalizar valores para a componente de pagamento de atrasados para voltar a credibilizar o Estado", aponta.
O partner da Deloitte informou que no processo de avaliação da qualidade de activos bancários solicitado pelo FMI, o BNA avaliou 13 bancos que representam 92 por cento do total de activos da banca nacional com referência a 31 de Dezembro de 2018. Este rigoroso exercício, na sua opinião, serviu para revelar os graves problemas existentes, nomeadamente no Banco de Poupança e Crédito (BPC) e do Banco Económico (BE).
"O BPC e o Banco Económico totalizavam cerca de 96 por cento das necessidades do sistema de liquidez de recapitalização. Os outros, no ano seguinte, conseguiram, rapidamente, transformar com solidez para voltar a cumprir o seu papel. Os bancos não são agentes de caridade, pois têm de ser garantidos”, lembra o auditor.
Contabilidade organizada
José Santos sublinhou a "importância cada vez mais fundamental" de as empresas terem contabilidade organizada, de modo a "conseguirem provar aos bancos que os seus projectos são viáveis, que existe controlo, que as contas são auditadas, de modo que o processo de financiamento seja célere e de confiança.
"A Deloitte tem uma carteira bastante alargada, mas é nosso desejo alargar ainda mais. Há aqui um espírito de que a auditoria é só para gastar dinheiro, só para chatear, mas é aquilo que os bancos entendem como mais adequado", considera.
O especialista em auditoria conclui que "Angola cumpriu com todas as metas que estavam previstas, todos os "check points". O país não foi célere a implementar uma ou outra medida, ou seja, demorou mais tempo noutras, mas nunca foi impeditivo para o FMI disponibilizar os montantes que estavam previstos até um total de 3.7 mil milhões de dólares, com reforços subsequentes”, detalhou o especialista da Deloitte, empresa de consultoria e auditoria.