A analista da agência de notação financeira Standard & Poor's (S&P) que segue Angola considerou, este domingo, que a economia angolana iniciou um novo capítulo de crescimento em 2021, mas alerta para os elevados riscos no financiamento.
"Quando descemos o 'ra-ting', em Março de 2020, o ambiente era muito diferente. Angola enfrentava múltiplos choques externos provenientes da queda do petróleo e da pandemia e isso teve severos impactos.Foi parcialmente graças à Iniciativa de Suspensão do Serviço da Dívida (DSSI) e acordos de reestruturação com a China que Angola teve algum espaço para respirar", disse Zahabia Gupta em entrevista à Lusa.
"Agora, o que vemos é que a maré mudou.
O ambiente externo é muito mais favorável, os preços do petróleo estão melhor do que esperávamos, e isso fez a taxa de câmbio evoluir muito favoravelmente.
Os níveis da dívida desceram mais de 55 pontos percentuais do PIB desde o ano passado, o Governo colocou em prática reformas muito difíceis desde 2017, como a liberalização cambial, o IVA, alargou a base tributária, e apertou muito na despesa, e agora está a começar a ver os benefícios dessa reforma", acrescentou a analista.
Em entrevista à Lusa na sequência da melhoria do rating de Angola, de CCC+ para B-, Zahabia Gupta alertou, ainda assim, que a melhoria na economia é temperada com vários riscos relativamente ao endividamento e às finanças públicas.
"Ao mesmo tempo, há riscos significativos de crédito. Os níveis de repagamento da dívida externa são bastante altos e vão aumentar para mais de 6 mil milhões de dólares de 2023 em diante e isso é um risco, porque significa que precisarão de ter acesso ao mercado e financiamento adicional dos credores actuais para fazerem face a estas necessidades", apontou.
A S&P considera que Angola já deixou a recessão em que estava mergulhada desde 2016, tendo registado em 2021 um ligeiro crescimento de 0,2%. "Estando seis anos em recessão, basta o efeito base para começarem a crescer.
Estimamos que o PIB tenha crescido 0,2% em 2021, e a grande razão para isso é que, como a produção petrolífera caiu 12%, foi o sector não petrolífero que sustentou a economia e motivou um ligeiro crescimento", afirmou, apontando que a economia não petrolífera, como a agricultura, diamantes, comércio e pescas, "será o principal motor da recuperação.